O HOMEM PEIXE



Todo domingo irei publicar aqui um dos meus textos.

Como estamos no período de chuvas e enchentes o primeiro será esse:

O HOMEM PEIXE
-Você consegue Samuel! Eu já vi você nadar em outras enchentes como essa.
-Mas essa não é igual à outra enchente Oliver, é muito mais água, eu nunca nadei com a correnteza forte assim.
-Tu és igual a um peixe rapaz, fosse criado dentro d’água. Eu apostei com os caras ali que tu consegue nadar até a outra ponte.
-Bonzinho você, né Oliver? Fazendo aposta pra mim. Por que você não pula? Eu estou bêbado, mas não estou doido ainda não.
-Pula no rio rapaz, deixa de ser frouxo. Eu apostei duas caixas de cerveja e dois galetos. É lógico que eu vou dividir com você. Toma outra dose de cachaça e pula nessa água morna
.- E aí gente, ele pula ou não pula?- Oliver perguntou aos presentes naquela ponte.
-Pula! Pula!.- Respondia em coro as pessoas ansiosas para ver um espetáculo.
Um senhor idoso chamou minha atenção batendo no meu ombro e me falou:
-Meu filho, não pule não. Um irmão meu morreu em uma enchente dessas, cinco dias depois quando baixou a água foi que achamos o corpo.
- Esse velho não sabe é de nada Samuel, ele é do tempo que amarravam cachorro com linguiça. Naquele tempo o ser humano não sabia nadar ainda... - Oliver conseguiu tirar risos das pessoas presentes ao debochar do idoso e foi me entregando uma dose de cachaça, que eu peguei, tomei e sabia o que tinha que fazer. Fiz o sinal da cruz e pulei no rio sob gritos de euforia da pequena multidão que se criou ali e começaram a sugerir mil coisas.
-Cadê ele? Ele não voltou depois que pulou.
-Será que ele já morreu?
-Ele está brincando conosco, ele vai aparecer bem longe, presta atenção.
-Olha ele ali, ele veio à tona. Tem uma coisa puxando ele. Ele ta preso em uma cerca de arame farpado que a enchente trouxe. Pode olhar por cima do ombro dele, é arame farpado mesmo. Eita! Ele afundou de novo.
Depois de um minuto de silêncio, o idoso pegou a sacola que estava aos seus pés e antes de ir embora falou:
-Eu avisei a ele que se pulasse iria morrer.
(conto do livro Um Assassino em Minha Vida - A MORTE NUNCA ESTEVE TÃO PRÓXIMA, autor: Lunas Costa )
Foto: Vc no G1

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